segunda-feira, 8 de junho de 2015

Vento





Tal como o vento leva as folhas secas de uma árvore, outrora verdes, viçosas, assim o tempo nos consome o que de mais puro possuímos, o que de mais belo albergamos.
Como velhas árvores, no Outono, mantemos apenas um esqueleto vinculado de rugas e nódulos, mas que nos mantém torcidos, nus, exaustos, de pé.
Temos apenas a estrutura, ao fim de tantos séculos, horas e dias que se tornam infindáveis, perdemos toda a frescura, a beleza, o doce suave e picante toque do imprevisível, perdendo hoje uma folha mas logo tendo um rebento.
Era após era, vamos ficando estáveis, imunes às variações e mutações do meio, do tempo e de algumas outras árvores que resolvem mudar de fruto.
Vamos perdendo toda a elasticidade que é, no fundo, a nossa capacidade de mudança, ainda que evolução.
Depois das horas, dos dias, os anos, os tempos, já não somos nós, de nós possuímos tão pouco que não nos reconhecemos, possuímos apenas… a estrutura.

Texto: Maria João Martins
Fotografia: Ângela Silva

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