quinta-feira, 18 de junho de 2015

COBARDIA


E se eu hoje pudesse... faria do silêncio um grito de indignação e diria a todo o mundo que não me revejo nele. Diria que acho que não pertenço aqui, mas que não sei onde pertenço. E diria também que o mundo não me serve e que não o quero assim. E o mundo acusar-me-ia de arrogância, de pretensão, de soberba.
E se eu hoje pudesse... faria da minha inacção o braço da guerra armada, aniquilando os infames, os pérfidos e os injustos. O mundo chamar-me-ia de fundamentalista, ou de outra coisa qualquer.
E se eu hoje pudesse... hoje não posso porque me vergo à cobardia dos que querem algum conforto:
Hoje não posso, porque me submeto à aceitação dos que me rodeiam.
Hoje não posso, porque me recuso a abandonar o conforto pútrido em que vivo.
Hoje não posso, porque me acanho de denunciar o que de escandaloso vejo acontecer com aquele homem.
Hoje não posso, porque... a minha cobardia é mais confortável.

Texto: Maria João Martins
Fotografia: Paula dos Santos

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