domingo, 24 de outubro de 2010

As pessoas ou os carros?

Longe vão os tempos de ruas amplas, com carros esporádicos que faziam parar as pessoas para os ver passar. Hoje os carros também fazem parar as pessoas... mas porque elas não conseguem ter espaço para caminhar. As ruas deixaram há muito de pertencer às crianças, aos que passeavam a pé ou aos que simplesmente marcavam encontro na rua. É impossível permitir a uma criança que brinque na rua, sem se pensar nos vários perigos relacionados com o trânsito. Não é possível passear a pé num labirinto de semáforos e correrias para atravessar a estrada. Onde não há carros, por outro lado, as ruas estão desertas e é literalmente inseguro permanecer. Restam os templos da contemplação e do consumo, onde não há carros nem semáforos, mas o ar está carregado pelos suspiros da contemplação sem consumo. Não há céu, nem sol nem vento. São novas avenidas, claustrofóbicas e labirínticas, mas sem carros.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Verticais ou inadaptados?

Hoje em dia generalizou-se um pouco a ideia de que alguém que saltita de emprego em emprego só pode ser inadaptado, pouco versátil, incapaz de acompanhar as novas condições do mercado de trabalho.Existe até uma figura jurídica que permite o despedimento por inadaptação ao posto de trabalho. Assistimos também a situações em que pessoas são despedidas por telefone, situações em que o esquecimento de dar os bons dias ao patrão são motivo para uma perseguição que já tinha sido pensada: precisava somente de um pretexto para ter início. Mais ou menos como aquela atitude de quem é confrontado com algumas verdades e apelida o seu autor de insolente ou malcriado. Todas as facilidades existem para privar alguém de trabalhar,ainda que o argumento passe por mostrar que o mercado de trabalho é selvagem.À sombra destes argumentos,e de outros menos dignos,espera-se que as pessoas vivam com uma espada sobre a cabeça chamada despedimento. Espera-se que as pessoas se verguem,em todas as condições, com todos os silêncios, com todas as desistências como sejam a vida própria, a família, os filhos menores. Chama-se Neoliberalismo. É uma espécie de filosofia em que os valores economicistas são soberanos e a lei que os rege é a lei do mercado. É a filosofia que pergunta às mulheres, nas entrevistas de recrutamento, se estão ou pensam vir a estar grávidas.Claro que a maioria das mulheres deste país, se não está, pensa vir a estar grávida. Isto presumindo que está em idade fértil, porque se não está não reúne critérios para ir à entrevista! Presumindo ainda que é biológicamente natural que uma mulher portuguesa, heterosexual e não demasiado velha para a tal entrevista, pense fazer aquela coisa estranha que é ter filhos. Mas não pode! Não é compatível com os objectivos da empresa. Esta espécie de filosofia tem ainda outros atributos. Tantos que dá náuseas elencá-los todos.Porque são todos favoráveis a muitos valores, excepto aos que dizem respeito às pessoas e ao respeito que merecem simplesmente por serem isso mesmo. Os que rejeitam este tipo de posturas e não acatam humildemente a indignidade, o desrespeito, a humilhação, são inadaptados, conflituosos, pessoas difíceis ou com mau feitio. São os que saltitam de emprego em emprego.Não porque não querem trabalhar. Mas sim porque não vendem o seu trabalho a qualquer preço. Alguém disse qualquer coisa como "no meio de tanta iniquidade, um homem chega a ter vergonha de ser honesto".  

terça-feira, 1 de junho de 2010

Impossível descrever

Ouvindo as últimas notícias do mundo somos tomados pelo espanto, pela incredulidade ou por qualquer coisa estranha que é impossível descrever. Ainda assim, é sempre um exercício tentar escrever sobre algo que não compreendemos. Nos últimos dias vêm ao mundo notícias de que um comboio humanitário com ajuda para a Palestina terá sido atingido por forças israelitas, com o resultado de 10 ou 19 mortos (conforme a estação de rádio que ouvirmos). Não discutindo as razões deste conflito de séculos, porque na minha modesta opinião nem os beligerantes já se lembram porque é que guerreiam, não deixa de ser chocante que activistas civis sejam alvo de ataques directos. Não fosse Israel um povo que sofreu um dos mais tristes episódios da Humanidade e poderíamos até tentar compreender um tão forte desejo bélico e de domínio. Dir-se-ia até que estaríamos a assistir a um acto de vingança, ainda que tardio. Porém, nem o alvo dessa vingança poderia ser o povo palestiniano, nem conviria a Israel vingar-se do seu originário agressor. Estão a imaginar Israel a atacar um combóio humanitário com origem ou com destino na Alemanha? Não estão, pois não? Nem eu! Então, qual a necessidade destes actos por parte de um país que se gaba de feitos como ter conseguido que o deserto parisse citrinos? E qual a tolerância do mundo perante isto? A NATO já fez exigências, alguns países já condenaram, o Egipto já abriu um canal de acesso ao Estado Palestiniano para ajuda humanitária e circulação de feridos e doentes. E?! Aquela coisa dos embargos, das sanções internacionais, não se aplica? Era só para saber...

domingo, 23 de maio de 2010

Mais maravilhas

Quem assistiu ontem a uma das inúmeras coberturas televisivas do Rock in Rio só pode ter ficado extasiado.
Começando por um indígena que afirmava que lá estava para "beber cerveja e para prontos" no seu acentuado sotaque nortenho ( o que nos questiona acerca da razão de tão longa viagem com um objectivo tão acessível em qualquer ponto deste país), e terminando numa mini-entrevista a uma transeunte que dificilmente se fez entender: tal era a dislexia, estamos estupefactos com as escolhas dos repórteres incumbidos da cobertura de tão grande evento. Certo é que deram àquela rubrica o nome de "apanhados". Mas, apanhados somos nós, incautos espectadores, que apanhamos de chofre uma emissão televisiva cuja população de entrevistados (talvez escolhidos a dedo), na sua totalidade não perfaz uma dentição completa. Este é um enigma com o qual me confronto há longo tempo: os portugueses, na sua maioria, são desdentados ou, só escolhem estes para entrevistar? É que caso os repórteres e jornalistas desconheçam, o discurso produzido por pessoas sem dentes assemelham-se a qualquer coisa, mas a nada que se perceba. Por favor, pelo menos durante as entrevistas, emprestem uma prótese dentária às pessoas. Em Marrakech vendem em segunda mão.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Dificuldades técnicas

Caros amigos, tenho tido informação de que alguns comentários feitos não aparecem publicados/editados. Se isso aconteceu convosco, agradeço que me contactem para o e-mail jocablue@gmail.com. Estou com algumas dificuldades técnicas com o País Maravilha, mas já estou a tentar resolver. Obrigada e não desistam.

Portanto, os homossexuais são pedófilos. E vice-versa?

Sábias são as palavras emitidas por reverendíssimos membros da Santa Sé! Pena é que o comum dos mortais, desprovidos de tão elevados saberes, tenham alguma dificuldade em compreender estes preciosos ensinamentos. Tristes são aqueles que acreditam, na sua ingénua ignorância, que os pedófilos podem ser qualquer coisa, como por exemplo, políticos influentes, industriais poderosos, professores e educadores, serralheiros, bancários, banqueiros ou, até mesmo sacerdotes. Mas, acreditar nisto é tão somente fruto da mais pura inépcia. Ainda bem que existem seres que nos elucidam acerca da natureza dos pedófilos, ou devo dizer dos homossexuais? Porque se dúvidas persistirem, tomamos como dado que na sua infinita aberração de homossexuais, estes seres (são seres?), invariavelmente cairão na pedofilia. Aberrantes não são os pedófilos, porque só são pedófilos porque já eram homossexuais. Mas, podemos questionar, se conseguirmos..."mas não há homossexuais que não são pedófilos?" Resposta: "Não são, mas podem sempre vir a ser!" Poupem-nos!!!

sábado, 3 de abril de 2010

Enfermeiros? São para abater.

Estão a ver aquelas pessoas que usam uma roupa branca, circulam pelos hospitais, centros de saúde, clínicas, etc? Não são padeiros, nem talhantes, nem esteticistas, nem cabeleireiros (estes também usam umas roupas brancas). São assim umas pessoas que parece que (também) dão injecções, às vezes fazem pensos, assim daqueles fáceis (os mais difíceis são feitos por outras pessoas que andam a aprender a ser doutores). Mas principalmente, estas pessoas, o que fazem mesmo é pensarem pouco (não estão ali para pensar), desenrascam qualquer problema que surja, quando o electricista não vem, a secretária faltou, o técnico das radiografias ou o outro que tira sangue estão de férias, mas acima de tudo, e como função principal, estas pessoas ajudam os médicos. Estas pessoas deixaram de ser profissionais competentes porque tinham assim um diploma do tipo bacharel, estão a ver? Mas para que serve um bacharel? Bolonha acabou com eles! Então vá! Vamos lá transformar estas pessoas em profissionais como deve ser! Vamos fazer deles licenciados! Assim, sim! Notou-se logo a diferença! Não nas coisas que fazem, que essas são exactamenta as mesmas. Mas pronto, nas outras, aquelas assim mais… nem sei. Portanto, dizia eu, habemus licenciatuns, abaixo os bacharéis!! Mas agora é que a coisa se complicou: ensinaram àquelas pessoas, na licenciatura, que deviam ser pagas como licenciados. Que chatice! Tínhamos nós umas pessoas de branco nos hospitais, como deve ser, a colaborar sempre que era preciso, a ajudar os doentes, e a ajudar os médicos a salvar os doentes, sem problemas nenhuns, mesmo com umas centenas de horas de trabalho em atraso, mas pronto, era preciso. E agora, lembraram-se de querer ser pagos como outros profissionais, sei lá, psicólogos, sociólogos, engenheiros, economistas, tudo pessoas com um passado reconhecido na sociedade. Mas agora estes? Vêm de onde? Qual é a universidade? De quê? Enfermagem? Ah! Pois. Pois… são enfermeiros. Pois é… é uma profissão muito linda. É preciso muita vocação! Pois… o vencimento? Temos de ver o que é que se consegue fazer. Mas… precisam mesmo, mesmo, de ter assim uma carreira tão definida? Não podiam, assim, sei lá, estarem lá no hospital e irem fazendo o vosso trabalhinho nas calmas, quer dizer, sem levantar ondas?

País Maravilha

Conhecem Portugal? Conhecem um país de anedota, onde nunca se sabe o que vai acontecer, mas sabe-se sempre que o que quer que seja, não será nada de jeito?