domingo, 24 de outubro de 2010

As pessoas ou os carros?

Longe vão os tempos de ruas amplas, com carros esporádicos que faziam parar as pessoas para os ver passar. Hoje os carros também fazem parar as pessoas... mas porque elas não conseguem ter espaço para caminhar. As ruas deixaram há muito de pertencer às crianças, aos que passeavam a pé ou aos que simplesmente marcavam encontro na rua. É impossível permitir a uma criança que brinque na rua, sem se pensar nos vários perigos relacionados com o trânsito. Não é possível passear a pé num labirinto de semáforos e correrias para atravessar a estrada. Onde não há carros, por outro lado, as ruas estão desertas e é literalmente inseguro permanecer. Restam os templos da contemplação e do consumo, onde não há carros nem semáforos, mas o ar está carregado pelos suspiros da contemplação sem consumo. Não há céu, nem sol nem vento. São novas avenidas, claustrofóbicas e labirínticas, mas sem carros.