quinta-feira, 10 de junho de 2010

Verticais ou inadaptados?

Hoje em dia generalizou-se um pouco a ideia de que alguém que saltita de emprego em emprego só pode ser inadaptado, pouco versátil, incapaz de acompanhar as novas condições do mercado de trabalho.Existe até uma figura jurídica que permite o despedimento por inadaptação ao posto de trabalho. Assistimos também a situações em que pessoas são despedidas por telefone, situações em que o esquecimento de dar os bons dias ao patrão são motivo para uma perseguição que já tinha sido pensada: precisava somente de um pretexto para ter início. Mais ou menos como aquela atitude de quem é confrontado com algumas verdades e apelida o seu autor de insolente ou malcriado. Todas as facilidades existem para privar alguém de trabalhar,ainda que o argumento passe por mostrar que o mercado de trabalho é selvagem.À sombra destes argumentos,e de outros menos dignos,espera-se que as pessoas vivam com uma espada sobre a cabeça chamada despedimento. Espera-se que as pessoas se verguem,em todas as condições, com todos os silêncios, com todas as desistências como sejam a vida própria, a família, os filhos menores. Chama-se Neoliberalismo. É uma espécie de filosofia em que os valores economicistas são soberanos e a lei que os rege é a lei do mercado. É a filosofia que pergunta às mulheres, nas entrevistas de recrutamento, se estão ou pensam vir a estar grávidas.Claro que a maioria das mulheres deste país, se não está, pensa vir a estar grávida. Isto presumindo que está em idade fértil, porque se não está não reúne critérios para ir à entrevista! Presumindo ainda que é biológicamente natural que uma mulher portuguesa, heterosexual e não demasiado velha para a tal entrevista, pense fazer aquela coisa estranha que é ter filhos. Mas não pode! Não é compatível com os objectivos da empresa. Esta espécie de filosofia tem ainda outros atributos. Tantos que dá náuseas elencá-los todos.Porque são todos favoráveis a muitos valores, excepto aos que dizem respeito às pessoas e ao respeito que merecem simplesmente por serem isso mesmo. Os que rejeitam este tipo de posturas e não acatam humildemente a indignidade, o desrespeito, a humilhação, são inadaptados, conflituosos, pessoas difíceis ou com mau feitio. São os que saltitam de emprego em emprego.Não porque não querem trabalhar. Mas sim porque não vendem o seu trabalho a qualquer preço. Alguém disse qualquer coisa como "no meio de tanta iniquidade, um homem chega a ter vergonha de ser honesto".  

terça-feira, 1 de junho de 2010

Impossível descrever

Ouvindo as últimas notícias do mundo somos tomados pelo espanto, pela incredulidade ou por qualquer coisa estranha que é impossível descrever. Ainda assim, é sempre um exercício tentar escrever sobre algo que não compreendemos. Nos últimos dias vêm ao mundo notícias de que um comboio humanitário com ajuda para a Palestina terá sido atingido por forças israelitas, com o resultado de 10 ou 19 mortos (conforme a estação de rádio que ouvirmos). Não discutindo as razões deste conflito de séculos, porque na minha modesta opinião nem os beligerantes já se lembram porque é que guerreiam, não deixa de ser chocante que activistas civis sejam alvo de ataques directos. Não fosse Israel um povo que sofreu um dos mais tristes episódios da Humanidade e poderíamos até tentar compreender um tão forte desejo bélico e de domínio. Dir-se-ia até que estaríamos a assistir a um acto de vingança, ainda que tardio. Porém, nem o alvo dessa vingança poderia ser o povo palestiniano, nem conviria a Israel vingar-se do seu originário agressor. Estão a imaginar Israel a atacar um combóio humanitário com origem ou com destino na Alemanha? Não estão, pois não? Nem eu! Então, qual a necessidade destes actos por parte de um país que se gaba de feitos como ter conseguido que o deserto parisse citrinos? E qual a tolerância do mundo perante isto? A NATO já fez exigências, alguns países já condenaram, o Egipto já abriu um canal de acesso ao Estado Palestiniano para ajuda humanitária e circulação de feridos e doentes. E?! Aquela coisa dos embargos, das sanções internacionais, não se aplica? Era só para saber...