segunda-feira, 8 de junho de 2015

Solidão



Quando a noite nos envolve, e o papel nos escuta… falamos de solidão!
Persegue-nos um animal, qual fera acossada, ferida, feroz e magoada, que ao mesmo tempo que nos ataca, nos pede que cuidemos dela, porque a dor é dilacerante. A solidão é assim. Um bicho ferido e enraivecido que pede colo.
As feras mais feridas são as mais ferozes, as mais vorazes e as mais meigas e dóceis.
Quando falamos de uma angústia, que nos dá um nó na garganta, falamos de solidão. Falamos de ter e não ter. Falamos de dar e não dar. Falamos de dor, de sofrimento e de amor. Falamos de um peito cheio de tudo contra uma mão cheia de nada.
Quando falamos de solidão, falamos de pessoas próximas que estão longe, falamos de amantes ausentes e, por vezes, falamos de desconhecidos que subitamente se tornam amantes.
Quando falamos de solidão, falamos de noite, de desgaste, de boémia e de álcool. Falamos de nós e contra nós, dos outros e contra os outros.
Quando chega o fim da noite, é a noite que nos ouve, é a noite que nos toca, é a noite que nos ama e que embala a nossa insónia.
Somos só nós e a noite.
Triunfou a solidão.

Texto: Maria João Martins
Fotografia: Domingos Ribeiro

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