quinta-feira, 18 de junho de 2015

SUPÉRFLUO


Serei o supérfluo na tua vida,

aquilo de que não necessitas,

mas que usarás, sempre que tudo o que tens,

não te baste.

Serei o bastão que podes usar para sovar o mundo,

sempre que o mundo te seja injusto.

Serei o teu apoio quando não quiseres baixar a bandeira do teu orgulho,

mas precises de ajuda para te ergueres: não direi a ninguém que te ajudei.

Serei o que tu rejeitarás quando a raiva te ensurdecer para as palavras,

e estarei para ti quando a bonança vier.

Serei o teu escudo contra a tempestade, mas serei também o batente da tua dor.

Serei tudo isso, muito mais ou nada, apenas.

Serei eu e nada mais.

Terás a minha mão discreta, para não te fragilizar perante os outros.

Dar-te-ei o apoio subtil que os soldados dão aos generais, sem nunca te retirar os galões, 

sem nunca te deixar vulnerável.

Manter-te-ei orgulhosa de ti e com a altivez que queres que o mundo veja.

Não direi nada a ninguém.

O preço do meu silêncio será ver-te caminhar erecta, vertical, digna.

Serei o supérfluo na tua vida.

Texto: Maria João Martins
Fotografia: Paula dos Santos

Sem comentários:

Enviar um comentário